Quem paga a conta?

05/02/2021

Foi em uma quinta-feira a noite. Estávamos eu, Torresmo, Guilherme e Pitoco. Naquela época não era bulling dar apelido aos amigos. A maioria deles já se identificava pelo apelido. 

Lembro-me que num dos primeiros jogos de futebol que trabalhei como repórter, entrei no vestiário para pegar a escalação. Eles foram dando os nomes, um por um, a maioria usava apelidos, até que chegou em um ala esquerdo, que sem pensar duas vezes cravou: "me chama de Neguinho". Ninguém estranhou. Ele era o neguinho. Seus pais o chamavam de neguinho, seus amigos o chamavam de neguinho, as pessoas que o conheciam e as que não o conheciam o chamavam de Neguinho. O narrador passou a noite inteira chamando ele de "Neguinho". Imagina nos dias de hoje? 

Naquela quinta-feira a noite chegamos no bar, eu, Torresmo, Guilherme e Pitoco. Era para tomar um ou dois chopes antes de ir embora, depois do futebol, prática quase que rotineira para as nossas noites de sexta-feira.

Guilherme chamou o garçom, pediu o chope, mas naquele dia pediu também petisco. Passada algumas horas, ele pediu uísque. Depois voltou a pedir petisco e terminou a noite, que por causa daquela série de pedidos, durara mais do que o necessário, pedindo uma pizza para jantarmos antes de ir embora.

Quando chegou a hora da conta veio a surpresa. Guilherme disse que não tinha dinheiro. Nós nos olhemos, mas no final das contas, depois de algumas xingações e palavrões, acabamos pagando a conta, com a promessa de que seriamos ressarcidos no futuro. Nunca recebi.

Quando vejo o governo dizendo que está disponibilizando recursos para isso e para aquilo, lembro dessa história. O mesmo acontece quando vejo deputados encaminhando emendas parlamentares e sendo elogiados pelas populações locais.

Eles estão fazendo os pedidos sem pedir a opinião de ninguém, mas na hora de pagar a conta, eles abandonam a mesa e deixam a conta para os demais, neste caso o povo, pagar.

Só isso justifica o governo gastar 20% a mais de alimentações em 2020 em relação a 2019 e dentro destes gastos aparecerem coisas como goma de mascar, refrigerante, pizza e outras guloseimas. E olhe que nem acho o leite condensado o maior dos absurdos. É o governo pedindo, gastando e nós pagando a conta e achando bonito.