O meio-campo do amor - Parte 3

18/11/2022

Desde que recebeu aquele beijo, naquele final de festa, a vida de Anderson simplesmente se transformou. Ele não conseguia mais se alimentar direito, não conseguia mais fazer atividades que até então eram corriqueiras para ele e o mais importante: não conseguia mais jogar como jogava anteriormente.

Anderson vivia do futebol. O dono do time assinava a sua carteira na sua empresa e pagava para ele um salário na média de um profissional de interior para jogar pelo time. Detalhe é que ele tinha carteira assinada, mas não precisava aparecer no trabalho. Futebol era mais que uma diversão do final de semana, mesmo sendo na várzea, Anderson era um profissional.

Ainda foram preciso três jogos para que Anderson tomasse a iniciativa de procurar Mariana. Foram três jogos desastrosos. Tinha perdido sua habilidade, força e criatividade. O beijo de Mariana tinha roubado o se futebol e ele precisava recuperá-lo.

Foi na casa que ele sabia ser dela e lá falou novamente com o padrasto, mas agora com um pouco mais de paciência e calma e conseguiu arrancar do homem o local para onde ela havia viajado e então não teve dúvidas, ele iria atrás dela.

Na manhã seguinte pegou o carro e fez os mais de trezentos quilômetros que separavam ele daquela mulher sem graça que com um beijo lhe roubou a sua técnica futebolística.

Chegando no local correu para o endereço que tinha anotado em um papel. Era um condomínio com vários prédios de apartamento com fachadas idênticas.

Falou com o porteiro que lhe disse que ela não estava e que ele não poderia entrar. Voltou para o carro e ficou pensando no que estava fazendo.

Era um camisa 10, um homem que não corria atrás de mulheres, ainda mais por causa de um único beijo. Sua missão além de seus desejos. Era precisa recuperar o que lhe fora roubado.

Não sabia direito o que ia fazer, mas tinha a impressão que um novo beijo seria capaz de devolver seus lançamentos de 30 metros, seu domínio extraordinário e seus olhos de lince que lhe permitiam ver o que ninguém mais via.

O tempo demorava para passar. O calor era terrível. Algumas vezes, saiu do veículo foi até a rua, espichou as pernas e depois voltou. Não sairia dali por nada. Ele queria encontrá-la quando ela chegasse em casa.

Era quase final da tarde quando ela desceu de um taxi e caminhou em direção ao portão carregando alguns livros na mão e uma bolsa pendurada no ombro. Ele saiu do carro e foi ao encontro dela. Estava sorrindo para ela que lhe retribuía com um olhar assustado:

"A gente precisa conversar" ele disse antes que ela pudesse dizer alguma coisa. " Eu vim só para falar com você", ele continuou.

Ela não disse nada, apenas caminhou para mais perto da portaria, onde o porteiro olhava curioso para cena. "Você não deveria ter vindo aqui! O que você quer?" ela largou de imediato.

"O beijo que você me deu! Desde aquele dia eu não consigo fazer mais nada, eu nem jogar consigo". Ele falava com uma voz chorosa.

"Você está louco, vá embora!" - Ela disse e entrou portão adentro. Ele até pensou em entrar atrás, mas sua passagem foi barrada pelo porteiro. "Podemos apenas conversar?" ele gritou enquanto ela já ia sumindo. "Não. Vá para casa. É melhor assim".

Ele ficou sem entender o que tinha acontecido. Ele não queria ir para casa. Ele queria conversar com ela, ter quem sabe, algum motivo que tirasse de si a maldição que recebeu naquele beijo em uma noite de lua cheia.