O meio-campo do amor - Parte 2

11/11/2022
Imagem de Sepp por Pixabay
Imagem de Sepp por Pixabay

O sabor dos lábios de Mariana ainda poria ser sentido por Anderson. Ele já tinha beijado muitas boas, mas nenhuma tinha lhe marcado tanto. Seus lábios queimavam apenas com a lembrança daquele beijo.

No mundo em vivia, era ele quem tomava as decisões, com sua confiança inabalável e seu bigode de Valdir. As regras eram sempre dele, mas agora tudo estava diferente. Eram sempre elas que mandavam mensagem no dia seguinte, mas agora era ele que se encontrava olhando para o vazio e imaginando em como poderia descobrir o número dela.

Passou o restante daquela semana pensativo sobre o ocorrido. Até frequentou alguns locais que ele sabia que ela costumava ir, mas não há encontrou. Não sabia exatamente porque estava fazendo aquilo, mas algo lhe dizia que devia procurá-la.

Conseguiu o número com a amiga de um amigo. Mandou mensagens, mas ela não respondeu. No terceiro dia após a festa, tomou coragem e foi à casa dela.

Na casa grande, com muitas flores, ouviu do padrasto de Mariana que ela havia viajado e que ele não sabia quando ela ia voltar. Com pouca vontade o homem gordo e careca disse que ela estava numa cidade ali perto, e encerrou a conversa antes que Anderson pudesse arrancar novos detalhes.

Naquele domingo com a camisa 10 nas costas e a chuteira verde-limão da Nike, ele entrou em campo pelo varzeano. Desde o primeiro minuto de jogo ele não conseguiu jogar. Os dribles desconcertantes, os toques perfeitos e toda a imposição do armador tinham desaparecidos. A bola batia em suas pernas e corria para longe. Ele até correu, se esforçou, mas aquele não foi um bom jogo. Bateu dois escanteios, não conseguiu tirar do primeiro poste. Era um fracasso total. No intervalo pediu para sair.

O treinador relutou e deixou ele em campo, mas o segundo tempo não foi diferente do primeiro. Uma falta na entrada da área, local perfeito, de onde ele dificilmente errava, naquele dia foi direto na barreira.

Com o olhar já desconfiado dos torcedores, do treinador e dos amigos, e já ouvindo risinhos aqui e ali, decidiu que simularia uma lesão. O fez. Saiu do jogo.

No chuveiro do vestiário, enquanto a água corria pelo seu corpo, tudo o que ele sentia era o toque dela, o carimbo da mão dela no meio das suas costas e o sabor dos lábios dela nos seus.

O tempo rugiu e ele lembrou do sorriso dela em cada investida fracassada dele. Lembrou inclusive das inúmeras vezes que eles estiveram em um mesmo ambiente e que ele nunca sequer se aproximou dela. Sua mente via a imagem agora com tamanha clareza e nitidez.

Ele levantou a cabeça para cima e com a água fria caindo por suas costas em direção aos calcanhares, olhou para o teto branco, querendo entender tudo o que estava sentindo.

Seria amor? Não, ele não se apaixonaria assim com tanta facilidade, não ele, um verdadeiro garanhão, um homem de muitas mulheres, um sujeito experimentado na arte da conquista. Um camisa 10.

Se não era amor, então, por qual motivo a lembrança daquele beijo não se apagava da sua cabeça? Não sabia responder. Era como se algo sobrenatural se apropriasse de sua própria razão de existir.

Talvez fosse amor. Afinal, que nunca amou não reconhece o amor, mesmo quando ele está batendo na sua porta. Tomou uma decisão. Amando ou não, ele precisava resolver isso, afinal, ele era um camisa 10, e camisas 10 não ficam resmungando pelos cantos. Eles resolvem.

Seus pensamentos foram cortados pela chegada em arruaça do restante do time que praguejava por causa da derrota que haviam sofrido. Ninguém falava nada, mas ele via nos olhares: ele era o culpado, mal sabiam eles que, na verdade, ele era a maior vítima da história toda.


Continua, na próxima sexta-feira, 18.