Domingo de despedida

24/11/2020

Foi no domingo de manhã que tudo começou. No dia anterior ele havia trabalhado até por volta das 16 horas e depois do trabalho foi com alguns amigos até um daqueles botecos insalubres onde se reúnem os trabalhadores braçais.
Sabia que devia ir para casa, que a companheira - era assim, que ela se descrevia pela falta de casamento formal - o estava esperando, no entanto, depois de uma semana de concreto pesado, tudo que queria era esfriar a cabeça e tomar uma ou duas geladas.
Confessa que perdeu a hora. Eram dez da noite quando levantou da mesa do bar e foi caminhando para casa. Estava meio tonto, mas não podia ser descrito como um bêbado, pois, lembra detalhadamente de cada momento do trajeto até em casa.
No conforto de seu lar encontrou ela, com um daqueles shorts jeans, que deixava as pernas roliças e bronzeadas amostras. Ela tinha pernas perfeitas. Não eram finas e nem grossas demais, eram no ponto. Era uma morena cor de chocolate de Gramado. Uma morena levemente bronzeada, ele diria.
Em cima ela usava apenas um top de crochê, amarelo, que cobria apenas os peitos, deixando as coisas levemente amostra. Eram somente aquelas duas peças visíveis. Estava descalça. Sempre andava descalça em casa, num estilo de menina/mulher, que continuamente lhe cativava.
Estava preparado para aguentar mais um daqueles sermões intermináveis, mas não. Naquele sábado a noite ela não fez nada do que ele esperava. Quando ele entrou na sala, ela riu para ele, caminhou na ponta de seus lindos pés, tamanho 36, e lhe deu um beijo molhado e quente.
Ele tentou falar algo, mas não conseguiu. Com uma fúria, que ele não reconhecia, ela arrancou a camisa suja de cimento que ele vestia. Depois passou as unhas em seu peito desnudo e o empurrou em direção ao sofá da sala.
Nem que quisesse ele saberia descrever o que aconteceu. Foi como uma terapia. O corpo cansado de quem trabalhou no pesado o dia inteiro, estraçalhado depois de seis horas no bar, simplesmente sentiu o maior êxtase de prazer da sua vida.
Depois que terminou ela simplesmente levantou e foi para o quarto. Ele ficou na sala por mais um tempo com aquela cara de quem está com uma vontade eufórica de comemorar e gritar para todos ouvirem, mas permanece contido, apenas com um leve sorriso escorrendo sorrateiramente pelo canto dos lábios.
Tomou banho, depois jantou e foi para o quarto, onde a encontrou já dormindo. Por um tempo impreciso ele prosseguiu postado aos pés da cama olhando para o corpo quase desnudo que dormia mansamente. "Ela me ama", ele pensou.
Depois deitou com um sorriso gratuito e dormiu. Naquela noite ele não sonhou, pois, nem no mais profundo de seus sonhos, poderia superar a realidade que lhe aconteceu naquela sala.
Na manhã de domingo, do dia fatídico, ele acordou quando o sol bateu na janela e lhe despertou. Olhou para o lado procurando pela sua amada esposa de pernas perfeitas, mas ela não se encontrava. Se movimentou na cama e pegou o celular onde observou a hora. Já passavam das 10 da manhã.
Levantou, entrou em uma bermuda e caminhou em direção ao banheiro. Ligou o chuveiro e deixou a água fria correr pelo seu corpo. Ele ainda sorria satisfeito pela noite anterior.
Lentamente se secou com a toalha que estava no devido lugar, próximo do box banheiro, e então se movimentou para escovar os dentes. Colocou o creme dental na escova e ligou a torneira e então quando levantou a cabeça, viu ali colado no espelho do banheiro aquele bilhete tosco, escrito de caneta azul.
"Para mim não dá mais. Sinto muito" - Era tudo que estava escrito. Ele arrancou o bilhete e leu uma segunda vez. Depois gritou pelo nome dela e correu em direção a cozinha na esperança de que tudo aquilo não passasse de uma brincadeira. Ela não estava lá. Ele correu novamente para o quarto e foi direto ao guarda-roupas onde ao abrir as portas, não encontrou as roupas dela. Ele olhou para a cama onde ela dormia na noite passada e sussurrou para si mesmo como uma sentença: "Ela se foi. Ela se foi..."