A espera

06/01/2023

Conversaram até marcarem o primeiro encontro. Ele nunca a tinha encontrado pessoalmente e antes que isso pudesse acontecer, ele, inseguro como sempre, queria ter certeza de que ela não era um desses personagens fakes que se espalham feito poeira ao vento.

Olhou as fotos. Era loira, com olhos verdes, pele dourada, cabelos loiros caramelados, lábios carnudos, dentes alvos e um corpo bem-proporcionado. Ele achava até difícil de acreditar que aquela mulher quisesse vê-lo.

"Será que isso é uma armadilha?", ele pensava, com sua incredulidade ativa, enquanto ela digitava palavras doces de quem realmente queria conhecê-lo. Voltou a olhar o perfil dela. É verdade, não havia tantas imagens, mas as poucas que estavam lá foram postadas com um certo intervalo de tempo uma da outra, o que demonstrava que aquela conta estava ativa há um bom tempo. Alguns comentários íntimos davam a impressão de que não era um perfil falso.

Buscou fotos dela com amigos. Encontrou duas ou três em meio a grupos, mas não eram fotos exatas e nem permitiam visualizá-la com exatidão. "Pensou ser estranho, até se lembrar que também não tinha muitas fotos no perfil. "Ela pode, simplesmente, não ter um prazer especial por fotografias".

Assaltou-lhe a mente de quem não tinha muito a perder. Claro que todo o ser humano, por menos que tenha, sempre tem algo a perder, mas, como dizia uma frase que ele leu uma vez: "Tenha fé, pois, se ela lhe ajudar, você tem tudo a ganhar, se ela não te ajudar, você não tem nada a perder." Foi o que ele pensou. Preciso ter fé.

Marcaram o encontro para às nove e meia da noite em uma área movimentada da cidade. Sentou em um banco e aguardou a chegada dela. Combinaram que ambos usariam branco para se reconhecerem em meio as pessoas que frequentavam aquele espaço para caminhar e exercer o seu direito de convívio social.

A cada pessoa que surgia, seu coração batia mais forte. Sempre que alguém aparecia usando branco, ele não conseguia deixar de imaginar: "Será ela?" "Não, não poder ser, ela é loira", "Ela pode ter pintado o cabelo", "É ela, não, não é ela."

Pouco tempo depois de ele ter chegado ao local, o relógio marcou nove e meia. Uma hora depois ele ainda estava na expectativa. "Ela se atrasou. Ela vai aparecer", ele pensou.

Às onze horas da noite sua bunda já estava dolorida de ficar sentado naquele banco duro esperando por ela, mas ela não veio. Ele ainda esperou mais uns quinze minutos e depois, iludido pela esperança de que ela simplesmente não o tinha encontrado, caminhou por entre as pessoas. Foi em vão.

Quando se deu conta, já era uma hora da madrugada e ele estava sentado em uma mesa de um bar que não era frequentado por pessoas ricas. Viu dois homens idosos sentados em uma mesa, bebendo cachaça. Estavam numa discussão acirrada de futebol para ver quem foi melhor zagueiro, Airton Pavilhão ou Herminío.

Pensou até mesmo em participar da discussão e dizer que Herminío só jogava bem porque tinha Figueroa do seu lado e Carpegiani na primeira linha do meio-campo, tendo o Caçapava voando numa lateral, mas preferiu não se envolver e continuou tomando a cerveja que estava inexplicavelmente saborosa.

Chegou em casa às três da manhã e mandou uma mensagem para a loira. Escreveu alguma coisa do tipo: Fiquei te esperando, não precisava fazer isso comigo... Já bêbado, não conseguiu ser mais eloquente e então resolveu mandar uma mensagem só na manhã seguinte.

Quando ele despertou, já eram dez horas. Só percebeu que dormiu com o ar desligado quando a sua cabeça já doía e o corpo estava cansado. Ele foi ao banheiro, onde, com muita dificuldade, tomou um banho e, então, pegou o telefone para enviar a mensagem que desejava.

Abriu o perfil dela, no Facebook, e o que viu derrubou seu chão. As mensagens de pesar estavam por toda a parte. Mensagens de amigos e parentes. Alguém nos comentários relatou: Infelizmente, ela morreu num acidente de carro indo ao centro.